Movement: A Journey into creative lives
Por vezes associamos a uma viagem, no nosso pensamento, a uma pessoa, a uma música, a uma fotografia ou a um livro. E a um filme?
É o que tem acontecido a milhares de passageiros que encontram este documentário a bordo dos aviões TAP nos voos de longo curso. É um dos documentários mais vistos do sistema de entretenimento da TAP e certamente um dos mais inspiradores. Está na nossa lista de favoritos.
O documentário conta a história de um homem que viaja por Portugal e descobre a diversidade deste país em personagens únicas e inspiradoras.
Falámos com o realizador - Tobias Ilsanker - e com o anfitrião e narrador - Francisco Cipriano - deste incrível documentário para nos contarem as motivações, ideias e inspirações que levaram à construção desta obra.
Quem teve a ideia de fazer o “Movement”? Qual foi a inspiração?
Tobias - Em primeiro lugar, presumo que todos estejamos ligados pela nossa "paixão" comum: o "amor" por Portugal. Além disso, acredito fortemente que tem a ver com o estado emocional durante a viagem. Estamos abertos para receber, processar e aceitar coisas novas na nossa vida de uma maneira diferente. Presumo que mais cedo ou mais tarde todos enfrentaremos a questão: o que é e onde é a nossa "casa." Também me perguntei a mesma coisa. Portugal teve e sempre terá um lugar especial no meu coração.
Certamente, não estamos todos no mesmo estágio da nossa jornada espiritual e fase da vida, mas belas amizades, projetos interessantes com significado e encontrarmos a nossa voz é inegavelmente algo de que todos andamos à procura. A minha namorada portuguesa foi outra grande razão pela qual me integrei tão profundamente no modo de vida português, na sua língua e na sua cultura. Foi experiência em primeira mão. Fiquei cada vez mais apaixonado por documentar as pessoas que conheci na minha jornada, ouvi, refleti e simplesmente tentei aprender o que elas tinham para nos ensinar através da sua própria história.
O José Antunes (Yoni) foi a primeira pessoa que me deixou curioso - não só para o documentar durante um período mais longo da sua carreira, mas também para aprender com ele os valores dos princípios básicos da autossustentabilidade, isto mesmo antes de começar a pensar sobre o movimento.
Este foi o verdadeiro começo da fase de narrativa. Eu tinha tantas perguntas que precisavam de resposta.
Mas também conheci mais pessoas que me cativaram o interesse e a mente, e os portugueses são muito ligados. O país é relativamente pequeno, mas muito versátil. Todos se conhecem. Se não, algum amigo conhece. O conceito de contar pequenas histórias de vida existe há muito tempo. Não inventamos a roda do cinema aqui, mas o poder da amizade íntima, personagens únicos e complexos com paixão tornaram o projeto naquilo que é.
Francisco - Eu conhecia já o Tobias Ilsanker. Ele mora no Baleal e eu tenho uma casa na Consolação, que é muito perto. Ao contrário do verão, no inverno somos poucos e estamos sempre a cruzarmo-nos por ali, a maior parte das vezes nas ondas. Eu já conhecia o trabalho do Tobias e ele o meu Portugal Surf Guide. Um dia num destes encontros ele falou-me desta ideia e disse-me que eu era a pessoa certa para ser o host, o narrador, o condutor das histórias, no fundo a ligação entre estes personagens. Disse que sim, porque a ideia me pareceu incrivelmente interessante, com a consciência que se tratava de uma coisa muito ambiciosa e que envolveria algum financiamento. Ainda assim, rabisquei umas ideias mediante o que o Tobias e o Philip me haviam transmitido e enviei. Um tempo mais tarde e quando dei conta já estava com ele e com o Philip Zylla, produtor, em Munique a apresentar o projeto a um dos parceiros. Senti nesse momento que tudo isto podia efetivamente ser possível.
Como o documentário foi produzido e realizado por dois alemães, como é que o Francisco, sendo português, se juntou ao projeto?
Francisco - Na verdade, não sinto sequer essa questão. É um filme português, sobre Portugal, feito por uma equipa internacional. O Tobias vive há muito tempo em Portugal e está muito ligado já à cultura portuguesa. Creio que isso até foi muito positivo, pois permite um olhar diferente e que é mais notório nas imagens. Digamos que num certo romantismo que as imagens passam que por serem filmadas por um estrageiro são mais isentas. Eu nasci e cresci em Portugal, numa época onde o que são hoje as tradições eram no passado o dia – a – dia. E não é preciso passar muito tempo. Duas décadas chegaram para se ter perdido muita coisa. O Tobias captou esta essência. Eu teria apenas observado que era algo que a minha avó fazia, nada de mais. Creio que ter um português como host ou narrador foi, neste contexto, a escolha lógica. Pela forma e pelo conteúdo.
Creio que apareço no filme por ser a pessoa certa, por ser justamente português, por ter a capacidade de formular as questões certas que conduzissem a que os personagens nos contassem na primeira as suas histórias. Também porque conheço bem o nosso país e porque eu próprio tenho uma história e questões por responder.
O filme segue-me, segue um Francisco Cipriano numa viagem emocional pelo seu próprio país, Portugal, e levanta um conjunto de questões que me inquietam. Como seria viver uma vida diferente? Como seria morar num local diferente? Como seria ter um trabalho diferente? O que nos motiva? O que nos faz medo? Estas foram as questões que prenderam este Francisco à estrada. O documentário não responde às perguntas, mas lança reflexões mostrando em primeira mão as experiências de uma dúzia de personagens excecionais, que vivem ou que construíram vidas diferentes e que tomaram as suas opções.
Tobias - E uma frase especial do Francisco Cipriano fez-me seguir em frente: "Conhece o Tobias... Já viajei muito na vida até agora, mas cheguei a um certo ponto, onde tenho muita curiosidade por explorar o meu próprio país." Esta afirmação ficou comigo até hoje e foi certamente o motor de contar esta história de um português que, no seu percurso pelo seu próprio país, encontra histórias de vida interessantes e com significado. E não é verdade?! Sem dúvida, visitar países diferentes é uma grande lição de vida, mas por que temos que voar até o fim do mundo para experimentar novos impulsos e inspirações na nossa vida? "Uma bela viagem pode começar aqui, ao virar da esquina."
O Francisco era tão apaixonado, cooperante e pró-ativo. O seu papel no projeto como apresentador e narrador assenta como uma luva e mostra exatamente como o Francisco é na vida real.
Foi fácil montar o projeto? As ideias foram bem recebidas pelos parceiros?
Francisco - A ideia sim, a prática não. Sentimos logo o apoio dos parceiros, mas foi sempre um filme de baixo orçamento. A nossa pequeníssima equipa fazia tudo, produção, filmagens, transporte do material. Digo isto sem reservas: independentemente do contributo de todos, este filme deve-se à determinação e à capacidade de trabalho do Tobias Ilsanker. Foi um longo caminho. Dois anos, entre conceção da ideia, filmagens por Portugal inteiro e depois toda a fase final de edição e pós-produção. É incrível como chegamos até aqui e como chegamos de uma forma tão surpreendente.
Tobias - O Philip Zylla deu sempre um apoio incrível desde o primeiro dia! Viveu anos aqui em Portugal e os seus próprios filhos cresceram aqui antes de regressar à Alemanha. É uma paixão e dedicação por algo que não se explica quando não se viveu. Mas ele esteve sempre disposto e convenceu-me a seguir em frente e procurar o apoio financeiro para fazer as coisas acontecerem, e para contar aquelas histórias pelas quais todos estávamos tão fascinados. Nós trocámos muitas ideias e tentámos encontrar o nosso caminho. Os parceiros do Movimento receberam muito bem a ideia e o conceito do documentário. É um elo entre muitos aspetos e o que os leva a seguir a sua paixão. É uma certa complexidade que eles devem superar para viver um determinado estilo de vida, uma luta que todos enfrentamos para ter sucesso. Nada é garantido! Nada!
Existem pessoas maravilhosas por aí!
O documentário é sobre pessoas mas Portugal é o palco. Conheciam essas pessoas antes? Como chegaram a elas?
Francisco - Sim bastantes. Algumas vêm de projetos antigos, nomeadamente do Portugal Surf Guide. Outras, amigos de amigos e outras ainda, amigos de longa data. Facilitou na abordagem inicial, mas complicou na construção da história, pois parecia que me estavam a contam coisas que eu já sabia e eu a perguntar coisas que já devia de saber. Mas tinha de ser, pois estávamos a “montar” uma história para espectadores que nada sabiam sobre estas pessoas e estas vidas. Estamos, no entanto, muito gratos, primeiro por ter um leque de pessoas tão interessantes, que nos possibilitaram contar boas histórias, mas também pelo facto das pessoas nos terem aberto a porta das histórias das suas vidas de uma forma tão sincera.
O facto de ser em Portugal fez toda a diferença? Porque decidiram fazer este trabalho em Portugal? Qual o local mais impressionante onde estiveram?
Tobias - Portugal é o nosso “terreno comum” o local em que nos sentimos em casa, o local a que nos ligámos através de amigos e família ao longo dos anos. Um lugar que fez sentido para começar a nossa ideia. Um lugar que ainda nos inspira pela sua beleza. Um lugar onde pudemos aprender, crescer e partilhar. Um lugar onde todos nos conhecemos e onde os nossos amigos conhecem outros amigos. É assim que tudo evolui.
Todos nos conhecemos aqui! O Philip, o Francisco (o nosso apresentador e narrador), o Richard de Wit (o nosso consultor de histórias) e também o Daniel M. Silva, o homem com quem passei a maior parte do tempo durante a edição do projeto nos quentes meses do verão português, no 6º andar do seu prédio numa pequena sala.
PORTUGAL TEM TUDO!
Francisco - Sim, sem dúvida. Como português senti muito orgulho em ter um país tão espetacular. Como digo no filme. “Quando me perguntam o que Portugal tem, apetece-me dizer tudo”, falar dos castelos, do Douro vinhateiro, das praias, das ondas, das aldeias remotas. O Movement retrata tudo isto de forma espetacular. O Movement é um filme narrativo sobre a diversidade de Portugal e sobre personagens únicos e que têm estilos de vida diferentes. Conta histórias pessoais fantásticas, unidas pela paixão, determinação, coragem e introspeção e sobre a sua/ nossa profunda relação com a natureza. Quando olho para o resultado final fico muito orgulhoso. Orgulhoso pelo resultado, pois corresponde às nossas expetativas e orgulhoso por o termos conseguido fazer.
Este projeto nasceu e cresceu para ser feito em Portugal. Contudo, estou certo que encontraríamos também diferentes personalidades e estilos de vida surpreendentes noutros países e histórias que valem a pena ser contadas (eu adoraria) e tal como em Portugal, países com imagens surpreendentes também.
Um lugar que sempre me impressiona muito é a Fajã de Santo Cristo, na ilha de S. Jorge nos Açores.
Qual o maior desafio e os melhores momentos durante as gravações?
Francisco - Creio que os melhores momentos das filmagens foram as entrevistas que depois conduziram ao contar das histórias na voz de cada personagem. Isto porque nestas partes faço de mim próprio. A curiosidade de conhecer aquelas pessoas é genuína, as perguntas foram genuínas, a vontade de saber mais e explorar, foram verdadeiras. Por isso, quando saía de cada uma das personagens tentava logo escrever para ainda ter todas as emoções à flor da pele (voz off que se ouve no filme). O que pensei naquele momento, o que aquele lugar me transmitiu, na esperança de passar para o papel as sensações mais reais e mais imediatas. Senti-me muito bem neste papel misto de host, apresentador, entrevistador e de viajante. O maior desafio foi fazer isto sem equipa. Na maior parte das vezes era apenas eu e o Tobias que nos fazíamos à estrada e que íamos à descoberta destas pessoas e deste locais, com toda a logística que um processo de filmagens tem: várias camaras, drones, lentes, cabos …, captar a boa luz de madrugada e ainda ter ideias. Montar tudo isto e estar fresco para pensar, pode por vezes ser algo muito complexo.
Tobias - Acho que os maiores desafios foram os momentos de confiança e aceitação. Desde o início ocorreram muitas conversas intensas, e-mails e conversas de formação de confiança com os nossos parceiros e até com cada protagonista no nosso filme, isto antes de um único momento ser gravado.
Nas localizações, a nossa maior dificuldade era a equipa limitada. Muitas vezes era só eu e o Francisco, e muitas vezes era só eu com os protagonistas.
Era tudo muito pessoal, convidavam-me para dormir na casa deles, ou eu descansava no meu carro ou num hotel barato. Longe de qualquer luxo, mas muito próximo da história em si!
Um dos melhores momentos para mim, depois de passar tanto tempo com cada um dos protagonistas, foi o momento em que os reunimos a todos. Organizámos um grande almoço no terraço idílico do Buddha Retreats e reunimos todas as personagens.
Ficou alguma história por contar?
Francisco - Sim há. Ficámos com histórias em backup que mereciam outro Movement para serem contadas.
Ainda se lembram da reação das pessoas na estreia do documentário? Querem partilhar connosco alguns dos comentários? Ainda recebem comentários?
Francisco - Sim, continuo a receber muitos comentários nas minhas redes e até na rua. A maior parte das pessoas ficam surpreendidas pelas imagens de Portugal, outras pelas histórias, que me dizem ser verdadeiramente inspiradoras. Imagens lindas sobre Portugal, personagens corajosas e determinadas que foram capazes de conduzir as suas vidas na direção que pretendem. Este é mesmo isso, um filme provocador nas imagens e nas frases, que não deixa ninguém indiferente.
Na TAP continuamos a receber comentários dos passageiros elogiando o filme, querendo vê-lo de novo e recomendar a amigos. Foi visto a bordo por mais de 15.000 pessoas. Que sentem em relação a isso?
Francisco - Não podia estar mais feliz. É sinal de que passámos a nossa mensagem a muita gente. Uma mensagem de inspiração, mas também de escolhas e de diversidade: diferentes personalidades e estilos de vida, histórias pessoais únicas, unidas pela paixão, determinação, coragem e introspeção. Este é também um filme sobre a nossa profunda relação com a natureza e sobre a forma como a devemos respeitar.
Têm planos para outro documentário semelhante? Se sim, contem-nos tudo.
Tobias - Este foi o nosso primeiro projeto de documentário de 90 minutos. Aprendemos muito, errámos e conseguimos atingir o nosso objetivo. Foi uma curva de aprendizagem de 2 anos "in situ." Depois de uma pausa, sinto-me pronto para um novo desafio! Quero trabalhar num novo documentário com significado! Fico feliz em passar tempo e aprender com pessoas apaixonadas.
Francisco - Ideias não nos faltam. Sei que estou pronto para outra! Adorei a experiência e sinto-me muito bem nesta pele. Adorava poder desenvolver esta linha de trabalho. Gosto de contar histórias.
Têm planos para uma próxima viagem?
Francisco - Eu tenho sempre planos para uma nova viagem. Gostava de ir explorar a região do Cáucaso. Creio estes países da Europa oriental e da Ásia ocidental (Arménia, Geórgia e Azerbaijão) ainda têm muito para nos dizer.
Tobias - O nosso lema: Uma viagem pode começar na próxima esquina! As oportunidades virão!
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