Um Passeio Pela Europa Vinhateira
Entre nos chateaux...
Bordeaux dispensa apresentações, mas nunca é demais relembrar os detalhes da principal região de vinhos da França. É aqui que se produzem algumas das mais prestigiadas marcas do mundo, graças à combinação particular de condições geológicas e climáticas. A história destas vinhas remonta à era romana, mas a classificação atual das variedades data do século XIX. A produção baseia-se essencialmente nas castas de uvas Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Petit Verdot e Malbec.
Esta região vinhateira divide-se em várias zonas: Graves, Médoc, Entre-Deux-Mers, Libourne, ou a própria cidade de Bordeaux e arredores. Cada zona possui características diferenciadas e os vinhos dos produtores mais prestigiados ostentam o título do chateaux (castelo) onde são produzidos. Um circuito vinícola por Bordeaux não estará completo sem visitas e provas de vinho especializadas em propriedades como Château Haut-Brion ou Château d’Yquem, ou nas comunidades onde se produz a variedade Saint-Emilion.
Ao pé do monte está o néctar
Descemos em seguida às terras transalpinas. Ricas em vinhas, há mais de 2 milênios já inspiravam os gregos antigos a cantar louvores à Oenotrua ("a terra da vinha"). As técnicas locais de produção têm origem no cultivo da uva pelos romanos, que criaram a expressão “néctar dos deuses”, e na criação de diversas variedades de vinhos “doces” durante a Idade Média. Para conhecer toda esta diversidade — existem aqui 50 zonas com Denominação de Origem Controlada — nada como programar umas férias em Milão e marcar um passeio pelas várias propriedades com provas de vinho.
Do Piemonte, no noroeste da Itália, vêm vinhos conhecidos como os tintos Barolo e o Barbaresco, feitos a partir da uva nativa Nebbiolo. A maioria da produção concentra-se nas povoações de Alba, Alessandria e Asti (conhecida por ser casa de um dos espumantes mais famosos do mundo). Na região vizinha da Lombardia, o destaque vai para as zonas de Franciacorta e Oltrepò, conhecidas também pelos espumantes; e Valtellina, onde as uvas Nebbiolo são tratadas à mão e os vinhos tinto, branco e rosé produzidos com métodos tradicionais e seculares.
A próxima parada é o rio Douro, que atravessa o norte de Portugal, marcado por grandes extensões de vinhas plantadas em montanhas e colinas ao longo das margens. Ao chegar à cidade do Porto, a primeira coisa a se fazer é procurar uma das várias agências de turismo que organizam passeios de barco ao longo do Douro. O Museu do Douro, em Peso da Régua, é também uma parada obrigatória.
Aqui encontra-se uma tradição que remonta às técnicas medievais dos monges da Ordem de Cister. Podemos ainda estimular as papilas gustativas em provas de vinhos e visitas às quintas, muitas deles fundadas pelos ingleses que aqui se estabeleceram no século XVIII depois de descobrirem os produtos locais.
Desde então, os vinhos do Douro adquiriram prestígio internacional. Produzidos em condições climáticas e geológicas especiais (a partir de castas tintas como a Mourisco Tinto ou Tinta Amarela, e castas brancas como a Donzelinho branco), os vinhos são envelhecidos em carvalho e possuem aromas frutados e ricos. Destaca-se a casta de tintos Touriga Nacional, considerada a mais importante da região e a partir da qual se criam alguns dos vinhos mais prestigiados do país.
É também aqui que se fabrica ainda o famoso Vinho do Porto, um vinho licorado e forte que há séculos faz as delícias de apreciadores por todo o planeta…
Viagem ao sul das vinhas
Nas extensas e quentes planícies a sul do Rio Tejo, encontramos outra grande região vitivinícola de Portugal. Ao aterrissar no aeroporto mais próximo (Lisboa), contate um operador turístico que o ajude a planejar uma incursão pelas principais quintas e adegas, e a conhecer as calorosas e pacíficas paisagens alentejanas.
O cultivo da vinha no Alentejo remonta à Antiguidade, mas até o final do século XX, a história da região foi marcada por secas, dificuldades climatéricas e pobreza. Atualmente, os apoios estatais e o desenvolvimento das técnicas dos produtores locais levaram a um aumento do estatuto (e fama) do vinho alentejano.
O calor, a exposição ao sol e a secura do solo levam à criação de tintos a partir de castas como Trincadeira, Aragonez ou Castelão, encorpados e com aromas de frutos silvestres. Já os brancos (castas Roupeiro, Antão Vaz e Arinto, entre outras) são suaves, ligeiramente ácidos e com sabores de frutos tropicais. A produção está concentrada nas oito sub-regiões da Denominação de Origem alentejana: Reguengos, Borba, Redondo, Vidigueira, Évora, Granja-Amareleja, Portalegre e Moura.
Antes dos Pirinéus
Seguindo para o leste da Península Ibérica, antes de chegarmos à muralha dos Pirineus, encontramos a região de La Rioja, ao sul de Bilbau.
Os vinhos La Rioja distinguem-se pela composição aromática e pela técnica de envelhecimento em carvalho, que pode durar vários anos. Os vinhos tintos são produzidos essencialmente a partir de casta Tempranillo e têm paladar leve e intensidade média. Os rosés (casta Garnacha) e brancos (Viura) são igualmente leves.
A tradição deste vinho atingiu sua maturidade no século XVII e as variedades de vinho e técnicas solidificaram-se no século XIX, levando ao desenvolvimento de uma identidade própria do vinho local, hoje um dos mais conhecidos do mundo. Esta foi a primeira região vitivinícola espanhola a obter a classificação DOC.
Sabores florais à beira-rio
Mas o bom vinho não é um exclusivo dos países do Sul! Apanhe um voo para Dusseldorf e siga de carro ou comboio para a região vitivinícola de Mosel. Um passeio pelas adegas e quintas permitirá a você descobrir uma leveza inédita de sabores ao mesmo tempo em que aprecia a beleza da paisagem campestre alemã.
Nestes campos e colinas, cruzados por três grandes rios (Mosel, Saar e Ruwer) os antigos povos celtas e os romanos deram início ao cultivo da uva e produção do vinho. Também aqui a produção é caracterizada pela localização das vinhas em colinas nas margens dos rios, sendo que é nesta zona que se encontra a vinha mais inclinada do mundo (Bremmer Calmont).
O principal atrativo desta região é o famoso vinho Riesling, que se tornou uma marca da produção vinícola da Alemanha. A partir desta casta de uva branca produzem-se principalmente vinhos brancos adocicados, de baixo teor alcoólico, alta acidez e aromas descritos como “florais”. São muitas vezes utilizados para acompanhar pratos apimentados ou com especiarias. A produção é feita sobretudo perto de afluentes do Saar e do Ruwer, na zona conhecida como Alto Mosel. Por outro lado, no Baixo Mosel, encontramos variedades mais fortes do Riesling, com gostos minerais no sabor.
As vinhas do centro da Europa
Uma viagem enófila incluirá necessariamente a Europa Central, em particular a República Checa. Sendo o país mais conhecido pela variedade de cervejas, aqui também se descobrem sabores surpreendentes de vinho. A região da Morávia, cerca de 300km a leste de Praga, tem se tornado conhecida pela produção vinícola, concentrada nas povoações de Mikulov,Slovácko, Velké Pavlovice e Znojmo.
A maior parte do vinho tcheco é branco, destacando-se o gosto de lima e as variedades baseadas em castas como Grüner Veltliner (Veltlínské zelené) ou Riesling (Ryzlink rýnský), mencionadas anteriormente. No tinto, realça-se a Pinot Noir. A exploração dos vinhos locais passa inevitavelmente pelas quintas e pelos Vinné sklepy, as adegas que se encontram um pouco por toda a parte. Recomenda-se a marcação antecipada das visitas e deslocar-se pela região de carro ou bicicleta para aproveitar a paisagem!
Aroma doce à beira dos Cárpatos
Na Hungria, vale a pena uma visita à região de Tokaj, a principal região dos vinhos húngaros. Aqui, as quentes planícies e colinas possuem um micro-clima particular, criado pela proximidade da cadeia montanhosa dos Cárpatos que domina a zona da fronteira com a Romênia e a Eslováquia.
São fortes os sabores dos vinhos Tokaj, determinados pela geografia, os métodos locais e as castas Furmint, Hárslevelü e Sárgamuskotály, uma variedade local de moscatel. Recorre-se ao métododa “podridão nobre”, com uvas maduras parcialmente apodrecidas e carregadas de açúcar. Os aromas doces destes vinhos, com consistência de néctar, são indicados para sobremesas e muito mais. Os Tokaji (“de Tokaj”) são também conhecidos pela grande longevidade, não sendo estranho encontrar garrafas com 50 ou 100 anos de idade prontas para consumo.
A história do vinho Tokaj está pouco documentada, mas pensa-se que remonta pelo menos ao século XII, tendo atingido o auge no século XVIII com o aumento de exportações para países vizinhos. Após um período de estagnação comercial, estão novamente ganhando popularidade.