Roma Não Foi Feita em um Milênio
Ao visitar a cidade, encontramos logo de cara vários sinais de um longo patrimônio. Acredita-se que tudo começou com comunidades de pastores concentradas na área hoje conhecida como Monte Palatino, cujos vestígios se mantêm incólumes à passagem do tempo.
No entanto, pouco se sabe do nascimento da cidade como a conhecemos. Segundo as lendas populares, Roma terá sido fundada em 753 a.C. pelos irmãos Rômulo e Remo, criados por uma loba selvagem. Após matar o irmão, Rômulo, cuja existência ainda hoje não foi comprovada, terá sido o primeiro rei de uma monarquia que durou mais de dois séculos.
A lenda está representada nos Museus Capitolinos. Procure-a: você conseguirá identificar facilmente a famosa estátua da loba.
No final do século VI a.C, uma revolução depôs o último dos sete reis de Roma e transformou-a em uma República. O governo emanava de um Senado, reunido na Curia Julia — localizada naquele que permanece ainda hoje como um dos grandes símbolos da cidade: o Fórum Romano.
Foi a era dos chamados “triunviratos”, governos formados por três representantes. Teve seu apogeu com Júlio César, cuja “presença” permanece em inúmeros monumentos, do Teatro de Pompeu à Via Appia Antica.
Nos séculos que se seguiram, Roma tornou-se um centro de comércio e poder militar. Por volta do século II a.C, a República já dominava todo o Mar Mediterrâneo.
O apogeu
No século I a.C, após um período turbulento que culminou com o assassinato de César, deu-se a ascensão de Otávio. Nomeado Imperador e assumindo o nome de “Augusto” (“Grande”), é com ele que tem início o período áureo da Roma Antiga. Duzentos anos mais tarde, o Império Romano era o mais poderoso do mundo, tendo conquistado quase toda a Europa, o Norte da África e uma parte da Ásia e Oriente Médio.
O já mencionado Fórum Romano constitui o que resta do antigo centro da cidade, dos edifícios públicos e do antigo mercado principal. O inevitável Coliseu de Roma leva-nos à época dos gladiadores que lutavam pela vida em espetáculos violentos que divertiam a população.
E no Circus Maximus, podemos ver os restos da pista onde se realizavam corridas de quadrigas e outros esportes. Em outros pontos da cidade, encontramos monumentos alusivos aos triunfos militares do Império, como o Arco de Constantino e o Arco de Septimius Severus.
Caso queira continuar a explorar, você pode fazer uma excursão até a Vila de Adriano, nos arredores — e observar a arquitetura e obras de arte que compõem o espaço e mostram como viviam os imperadores na época áurea.
Imperdível é também o Panteão, construído pelo imperador Adriano, hoje espaço museológico repleto de cerâmica, pinturas, armas e artefatos vários. Mostra bem o domínio da civilização romana nas ciências, artes, tecnologia e comércio, conhecimentos valorizados pelo mundo ocidental séculos mais tarde.
Um império dá lugar a outro
À prosperidade seguiu-se a decadência: crises económicas, instabilidade política e guerras. No século V, as invasões de tribos germânicas põem fim ao Império e dão início ao retrocesso civilizacional que caracterizou a Idade Média.
Nessa época, a península Itálica viu-se dividida em vários reinos e cidades-Estado. E a cultura romana já tinha sido substituída por um novo centro de poder efetivo, não só sobre a cidade mas sobre o continente europeu — o da Igreja Católica.
Sediada no lugar que é hoje o Vaticano (cidade-Estado desde 1929), tinha já nesta época seu centro em uma primeira versão da Basílica de S. Pedro. Mesmo antes de ter sido reconstruída no século XVI, era já nesta época um símbolo maior da cristandade.
Por toda a cidade encontram-se as marcas da Roma medieval. Em outros templos, como a Basílica de São Paulo Fora dos Muros, a Basílica de Santa Maria no Trastevere, ou a Igreja de Santa Cecília. Mas também em edifícios militares como a Torre delle Milizie (Torre das Milícias) e a Torre del Conti.
O nascimento do Renascimento
É natural que Roma tenha sido também um dos centros da transformação europeia, uma vez mais, a partir do século XV. Em uma resposta à reforma protestante, o patrocínio da Igreja Católica a artistas como Botticelli, Rafael ou Michelangelo contribuíram para o florescimento da arte e da cultura.
A Basílica de S. Pedro foi totalmente reconstruída e terminada em 1615, assumindo sua forma atual. É lá que se pode ver a Pietá de Michelangelo; e, do outro lado da praça, A Criação de Adão no teto da famosíssima Capela Sistina.
Muitos outros marcos vêm deste período. A Ponte Sisto, que atravessa o rio Tibre, data do século XV. O Palazzo Farnese, de 1516, na época considerado o mais imponente palácio da cidade. Ou ainda o Palazzo del Quirinale, que abriga atualmente a presidência da República Italiana, e o Palazzo Chigi que é residência oficial do primeiro-ministro.
A Villa Farnesina, construída por um rico banqueiro da Toscana, comprova o dinamismo da Itália renascentista. Na Villa Giulia podemos visitar o Museu Nacional Etrusco e conhecer o povo que dominou a região na Antiguidade pré-românica. E na Piazza Navona, no centro histórico, ainda é possível sentir no ar o ambiente de há quatrocentos anos.
Roma Iluminada
Na capital italiana, não é possível escapar à marca do barroco. Comece por dois locais de culto: a Igreja de Trinità dei Monti, enriquecida com vários elementos dos séculos XVII e XVIII; e a bela Igreja de Sant'Andrea della Valle, escolhida mais tarde por Puccini como “cenário” do primeiro ato da ópera Tosca.
Continuando para a Via Condotti, encontramos edifícios datados deste período e começamos a mergulhar em uma Roma mais recente, já mais mergulhada na chamada era moderna.
E é nas ruas do centro da cidade, repletas de esplanadas e da agitada vida romana, que encontramos outros nomes bem conhecidos: as escadarias da Praça da Espanha e a requintada Fonte de Trevi, imortalizada pelo diretor de cinema Federico Fellini.
O suntuoso Palazzo Corsini abriga um museu com uma extensa coleção alusiva a este período.
Linhas retas
Os últimos dois séculos foram agitados! Convulsões sociais, a unificação da Itália, uma ditadura e duas guerras mundiais, até chegarmos aos dias de hoje.
O estilo neoclássico do século XIX está bem representado na Piazza della Repubblica e na Piazza del Popolo — esta última marcada pelo Obelisco de Ramsés II, transplantado diretamente de Heliópolis no Egito.
Ruas como a Via Veneto remetem-nos ao final da Revolução Industrial e a I Guerra Mundial. Já na zona da Esposizione Universale Roma, somos transportados para o modernismo da era Mussolini. O Museo della Civiltà Romana e o Planetário são exemplos marcantes deste período.
Menção especial também para Fosse Ardeatine, onde se destaca o memorial às vítimas do nazismo na II Guerra Mundial. No distrito de San Lorenzo, podemos explorar um dos típicos bairros operários surgidos no século XX, que sobreviveram aos bombardeamentos da 1943 e onde se concentrava a resistência à ditadura. É aqui que se encontra a Universidade La Sapienza.
Roma vive de história. Mas, sendo “Eterna”, segue sempre seu caminho. Para conhecer um pouco da cidade contemporânea, nada como entrar no Maxxi, um museu vanguardista cuja arquitetura ousada não deixa de prender a atenção.