Marrocos – Errachidia-Ouarzazate
À nossa frente estava uma sopa fria de melancia e tomate com azeitonas e tâmaras. Depois veio o borrego com molho de beringela, cogumelos salteados e legumes com amêndoa torrada. No fim apareceu um pudim de chá verde, mas ao chá juntara-se lúcia-lima, calda de cenoura, gengibre e água de flor de laranjeira. Mais marroquino e delicioso, impossível.
O lugar era o Kasbah Hotel Tombouctou em Merzouga, e tudo fora concebido na respetiva cozinha por Vítor Sobral, chef consultor da TAP, e a sua assistente Sofia Oriana. Magia em pleno deserto do Saara.
Um dia antes tínhamos aterrado em Casablanca, diretos de Lisboa, logo arrancado para Errachidia, uns 500 quilómetros a ocidente de Marraquexe. A lua alta recebeu-nos. Repouso curto, pequeno-almoço valente e uma manhã no mercado de Rissani, onde nos abastecemos de produtos frescos para a confeção dos pratos de inspiração local, pôs-nos em forma. (E mais compras para alguns do grupo, claro!, não estivéssemos em Marrocos, enquanto os outros muitos portuguesmente iam em busca da pausa para a “bica”!)
Lançados à estrada na direção do não muito distante oásis de Tisserdmine – já mencionei a temperatura? ao fim da manhã chegava aos 40 graus centígrados, combatida pelo ar condicionado dos jipes –, a música marroquina colocada pelo nosso jovem motorista Hassan pôs os sentidos alerta para absorver tudo.
Um aperitivo perfeito para uma primeira refeição em Tisserdmine, neste itinerário pensado pelo Turismo de Marrocos e o grupo hoteleiro Xaluca com a TAP.
Lá em cima
Falava-vos de Merzouga. Aquele repasto eloquente preparou-nos bem para o dia seguinte. Partimos outra vez para o deserto, que há milhares de anos foi mar, aprendemos numa pedreira fóssil em Arfoud.
Vimos o Lago de Merzouga e os flamingos. Conhecemos as hortas comunitárias dos berberes, onde cultivam legumes, cada família com sua parcela de terra, e os palmeirais ao rubro – era final de Setembro, começo de Outubro, época de colheita das tâmaras.
Tivemos um momento de contemplação com saboroso chá verde e frutos secos. E então alcançámos a caravana de dromedários que nos levou ao pôr do sol na duna mais alta de Erg Chebbi (as maiores chegam aos 150 metros), naquele que é um dos dois conjuntos mais altos do Saara marroquino, já quase avistando a Argélia. Infelizmente o astro escondeu-se atrás de nuvens, mas valeu a experiência de equilibrismo nas alturas dos camelídeos, mas que são lentos e muito dóceis.
E onde passar a noite? Em tendas, claro, as da Bivouacs Xaluca, ainda Erg Chebbi, montadas no local pretendido pelo hóspede, o que pareceu surreal: incluíam uma casa de banho completa, camas king size, candeeiros e toneladas de tapetes dentro e à volta.
E era na parte de fora que estava toda a animação. Em frente à fogueira havia um churrasco e uma enorme bancada onde mais uma vez Vítor e a Sofia nos preparam o jantar em versão showcooking. Uns ajudando, outros conversando, outros dançando. À mesa chegou frango e borrego, saladas, cuscuz com cogumelos, beringela com eles também, e grão com couve-flor e amêndoas. E as estrelas ao serão? Que céu!
Acção!
Ouarzazate é a cidade dita Porta do Deserto. Erg Chebbi ficara para trás e havia 350 quilómetros para percorrer ao longo da cordilheira do Atlas, uma visão imponente.
Houve tempo para desvios, e são muito recomendáveis de fazer. O famoso Vale do Dades, com suas paisagens áridas de tons avermelhados contrastantes com as árvores de fruto nas margens do rio que dá nome ao vale, é das paisagens mais belas que já vi. Desviámos também rumo ao Oásis de Skoura, que atravessámos para ir conhecer o Kasbah Amridil.
Os cenários naturais – e fabricados – de Ouarzazate são famosos. De certeza já os viu por aí: nos filmes The Jewel of the Nile (1985) ou Gladiator (2000), ou em cenas na cidade de Pentos, da série Game of Thrones, entre tantas outras obras rodadas num dos maiores espaços do mundo deste género, os Atlas Studios, empresa fundada em 1983 (tudo motivado por Lawrence of Arabia, de 1962, filmado na mesma área).
Exploração divertida, seguida de almoço no Dar Rita, o alojamento familiar fundado pelos irmãos Rita e João Leitão, que trocaram Portugal por Marrocos há mais de uma década. João assumiu o papel de guia e é das melhores companhias de viagem, uma enciclopédia ambulante de cultura marroquina. Ao final da tarde, o pôr do sol no ksar (aldeia fortificada) de Aït-Ben-Haddou – mas desta vez sem nuvens! Final perfeito.
Por Rita Cardoso - © up-tap inflight magazine
(Consulte o artigo na Revista in UP, edição de fevereiro de 2020)